Angela Leite - 1989
A corte da jaguatirica
A corte da jaguatirica
Uma gata que se preza exibe o que se passa em seu interior. Inquieta, inapetente, mia num tom mais rouco que o habitual. Está mais sestrosa e se compraz em roçar o corpo nas superfícies mais diversas.
Feridos no olfato apurado, felinos da vizinhança reagem aos apelos da sereia. Pelejam encarniçadamente pela posse daquela que pode por fim preterir o vencedor dando as costas ao vencido (o que de gata para gato pode ser um bom sinal). Um varão afortunado não se mostrará impulsivo.
Concentrado e paciente, apreciará o espetáculo que a dama lhe reserva arranhando o chão com as patas dianteiras, contorcendo-se nas poses mais langorosas ao som de um monocórdio ronronar.
Um novato desavisado será punido com unhas e dentes se invadir o palco e malograr a exibição. Orgulhosa de seus dotes, satisfeita com sua atração, a sedutora finalmente aquiesce e o espectador – sucumbido a tantos encantos – terá a presa que merece.