Angela Leite - 1989

Jubarte, baleia alada

Jubarte, baleia alada


São aladas no gênero (Megaptera) por forçaa das longas nadadeiras manchadas de um branco limpo sobre o negro dominante do corpo de 15 metros. Lembraram andorinhas em vôo, a um de seus maiores caçadores, por seus graciosos movimentos ondulando 40 toneladas na cadência da cauda recortada.

Levam a alcunha de “corcundas” pois parecem rolar sobre a superfície encurvando pronunciadamente o dorso,  para em seguida “esguichar”,  exibindo seu rosto nodoso, quando não estão vagando sem destino mas migrando em “viagens de superfície”.

Destacam-se como as mais brincalhonas, ora nos pólos para a “pastagem” de krill e pequenos peixes de cardume, ora em mares tropicais para o acasalamento e a lactação inicial dos bebês. Mãe e baleote dispõem de um escolta fixo com evidente postura defensiva e duvidoso parentesco – se pai ou pretendente. Nestas estações se entregam a ruidosos ritos amorosos, audíveis a milhas de distância em meio a um turbilhão de espuma. Nadam emparelhadas, roçam uma na outra e se golpeiam com suas grandes asas nevadas, “permitindo-se outros jogos que são mais fáceis de imaginar do que de descrever” (observação do baleeiro C. M. Scammon).

Num passado remoto, foram presa fácil de navios a vela e barcos abertos em regiões costeiras. Lentas o bastante, curiosas ao extremo e espalhafatosas por natureza, mereceram, junto com as baleias francas, a predileção dos primeiros baleeiros que contavam com a docilidade de seu caráter e a inaptidão de seus bebês enrugados. Num passado recente, do início do século até a eclosão da 2ª Guerra, sofreram um combate desigual. Munidas de canhão-arpão e navios-fábrica, frotas baleeiras dizimaram 102.298 jubartes apenas no Hemisfério Sul. Em nossos dias, 90% de sua população inicial estimada faz parte do passado. Dentre as 12 mil sobreviventes, cerca de 140 delas escolheram o arquipélago de Abrolhos para desfrutar da hospitalidade brasileira, melodiosamente conquistada. Em futuro próximo, seus novos pesquisadores poderão nos regalar com dados sobre como vivem (e não como abatem) nossas alegres vizinhas litorâneas.

Sinfonia submarina
Elas só cantam em águas tropicais, na época de corte, solitárias ou em corais. São os machos os cantores de uma mesma trilha sonora que pode durar meia hora e que todos sabem de cor. Cada manada tem um repertório próprio cujos temas ganham novos arranjos, a cada ano, e são repetidos pelos varões do grupo. Como cantam sem ter cordas vocais, para que se servem desse “dialeto” musical, por que cantam afinal e memorizam todas, sem deslize, as variações da velha melodia?

Sabemos com certeza que as canções são constrangedoramente belas para ter comovido o mundo em sua defesa, impulsionada pelas gravações feitas pelo cetologista Roger Payne em 1970. Foi ouvi-las e protegê-las.