A técnica da xilogravura
Para haver ação é necessário resistência. Para haver agressão, provocação. A dureza de um objeto instaura uma rivalidade. Sugere luta, conduz ao ataque. O ataque eficaz é à mão armada. Armada de instrumentos que vençam sua resistência. Cuja tática é o respeito à formação com a qual nos defrontam, o alinhamento de suas fileiras. Cuja vitória é a submissão à ordem proposta. Para a mão nua a força oposta é excessiva. E o mundo como oposição se reduz ao caráter de espetáculo. Diante da mão instrumentada o espetáculo responde não, revela um contra. A matéria se faz combativa, é um outro que desafia.
Temos uma madeira diante de nós. Com a dureza de sua carne, a definição de suas fibras, a inércia de sua situação. Sua integridade nos provoca, desperta e revigora o impulso de nossa energia. Para um duelo que pede armas certeiras, que firam com destreza. Porque a ferida deve incidir sobre a articulação de suas veias, a ordem de suas fibras. Vencemo-la obedecendo à sua conformação. Dentro de uma vontade submissa. Com uma força contínua e regular. Com um ímpeto moderato e racional – modelador. Para forçá-la a nosso desejo, para lhe impormos nossa forma usamos o que nos é sugerido – sua estrutura própria. O gesto eficiente é o bom discípulo – aplicado e criativo. A obra da madeira, o discurso de suas linhas disciplina nossa vontade, transforma, educando nossa força em poder, dá à nossa agressão um estilo adequado. É na pedagogia da madeira, em sua clara lição, que se aloja o sucesso de nosso traço vitorioso. A descoberta da lição revela o segredo de nossa escondida criatividade.
Angela Leite – 1972
A artista desenvolve atividades de sensibilização às questões da natureza com escolas e instituições. Participa de campanhas de entidades como a União em Defesa da Natureza e a Rede Pró-Unidades de Conservação e é membro-fundador da União em Defesa das Baleias. Ministra, também, cursos de xilogravura combinados ao conteúdo ambiental e de sustentabilidade.