Logo se vê que Angela Leite é da família de São Francisco de Assis. Em suas xilogravuras estão todos os gritos de uma fauna em extinção. Ela talha, forte, o debucho de suas aves assassinadas, da anta brasileira e das baleias, todas elas em extinção. Baleias alegres, imensas. E todo universo condenado, contaminado pelo bicho-homem.
A artista, então, retrata a pureza animal de seres que se vão extinguindo. Ela vê a ecologia em desagregação. Florestas são mortas. As águas entram em alucinações de dilúvios. E os bichos de Deus perdem suas moradas ou são caçados.
Angela poderia formar passeatas de defesa da ecologia. Acontece que ela sabe que a bomba, o panfleto podem ser evolucionários no tempo enquanto a arte dá um recado muito mais longo tendo muitas vezes as dimensões da eternidade.
A artista fez uma trincheira reivindicando o direito à vida. Uma luta linda, essa, talhada duramente na madeira, passada para o papel, minuciosamente, compondo a anatomia, a geografia da extinção. Ergue uma bandeira de corpos com o sopro forte da vida. Pelos, penas, constroem o mundo tremulo dos que pressentem o extermínio.
A artista com seu traço junta-se às revolucionárias de um mundo perdendo o equilíbrio. Angela, anjo, um destino. Uma arte. Forte, persuasiva, passional, os quadros deitam clamores e gemidos.
Helena Silveira – 0
A artista desenvolve atividades de sensibilização às questões da natureza com escolas e instituições. Participa de campanhas de entidades como a União em Defesa da Natureza e a Rede Pró-Unidades de Conservação e é membro-fundador da União em Defesa das Baleias. Ministra, também, cursos de xilogravura combinados ao conteúdo ambiental e de sustentabilidade.