“A natureza e a arte parecem fugir uma da outra; no entanto, antes que o percebamos, voltam a encontrar-se”.
Goethe
Arte e Natureza jamais estarão separadas. Enquanto houver vida humana (útil) sobre a Terra, elas serão a mão e a luva da sensibilidade.
A História do Homem deixa nítida que uma depende da outra. Muito antes do homem inventar a tela (de linho! de algodão! ou seja, de materiais retirados da natureza) para nela registrar, a seu modo, a paisagem que Deus criou e ele recria, arte e natureza já estavam, literalmente, de mãos dadas. Quem pode esquecer as mãos humanas, os animais, as centenas de imagens gravadas e cravadas nas paredes das moradias humanas pré-históricas, desde Altamira até Sete Cidades, no Piauí?
Foram os pintores Impressionistas, a partir de uma cena natural inesquecível e que acabou até por dar nome a eles (Claude Monet in “Impressão, Pôr-do-Sol”, tela de 48 x 63 cm, de 1873, datada de 1872) que reforçaram, no berçário da chamada Arte-Moderna e para nós, homens do século vinte, essa idéia, imutável e infinita, de que arte e natureza andarão (felizmente!) sempre juntas.
“A Natureza não é benévola, e é com destemida indiferença que de tudo se vale para os seus fins” – eis aí a verdade absoluta, dita há tanto tempo por um sábio do porte de Lao-Tsé e que nós, brasileiros, ainda não aprendemos a respeitar. Se fosse ao contrário, não teríamos tido as tragédias apocalípticas dos desabamentos de terra, água, vegetação, casas, e gente nos morros de Petrópolis e Rio de Janeiro, enquanto o povo, anestesiado pela pinga e sexo, “divertia-se” este ano (1988) no carnaval…
Não se trata de moralismo meu. Eu constato que o delírio alheio não quer ver ou ouvir. Verouvir. No País da Corrupção, estamos, apenas, preparados para o aplauso. É porque o barulho das mãos não deixa a cabeça refletir…
Penso nisso tudo e também em Francis Bacon (“Para governá-la devemos obedecer à Natureza”) a propósito desta exposição.
Aqui, olhos rigorosos com a Estética e a Historia da Arte deverão ser, irremediavelmente, benevolentes com os artistas porque, aqui, a qualidade é secundária, a invenção não conta, o nome pouco ajuda. Aqui, existe, nesta exposição, um elogiável Manifesto de Defesa da Natureza, vale dizer, da busca do equilíbrio de nosso corpo e de nossa mente com o entorno que Deus nos deu.
Não quero, entretanto, deixar de ressaltar a beleza, a invenção, a seriedade do trabalho excepcional de Angela Leite, essa artista que convive com pássaros e animais defende a Ecologia (naturalmente) há muito tempo. Sem arrivismo. Sem oportunismo. Como não posso, não quero, nem devo ignorar a arte maior, também aqui presente, de Gregório, Aldemir Martins, Guto Lacaz, Ubiraja Ribeiro, Rubens Matuck, Alex Cerveny e dois pequenos gênios e grandes artistas como são (comoção!) Francisco Faria e Jeanete Mussati. Arte e Natureza jamais estarão separadas.
Deus Perdoa. A Natureza, nunca.
Olney Krüse – 1988
A artista desenvolve atividades de sensibilização às questões da natureza com escolas e instituições. Participa de campanhas de entidades como a União em Defesa da Natureza e a Rede Pró-Unidades de Conservação e é membro-fundador da União em Defesa das Baleias. Ministra, também, cursos de xilogravura combinados ao conteúdo ambiental e de sustentabilidade.