Galeria Arco
São Paulo – Abril
Nem sempre o estardalhaço e intensa divulgação que tem caracterizado determinadas mostras indicam qualidade. Recentemente a gravadora Angela Leite realizou uma das mais importantes exposições deste primeiro semestre com a discrição e dignidade que seu trabalho merece. Há muito tempo não víamos xilos tão bem resolvidas. Tecnicamente impecáveis, essas gravuras artisticamente revelam altíssimo nível. As grandes dimensões dessas xilos não alteraram em nada a excelente qualidade obtida pela artista. São raros os gravadores que conseguem em dimensões tão amplas, manter semelhante resultado. Tomando como tema as espécies em extinção, Angela Leite desenvolve um trabalho que alia à técnica, à arte, a denúncia. Através de suas gravuras chama atenção de todos para crimes ecológicos de nossos dias. Baleias, peixes bois, jacarés e outras espécies condenadas ao extermínio, estratificadas, fossilizadas em suas gravuras, são testemunhos permanentes e insistentes de uma destruição inqualificável. Acredito que dos gravadores brasileiros que se dedicam à xilo, Angela Leite é a que está mais próxima da trilha percorrida por Goeldi. Suas gravuras possuem a mesma força que encontramos na do mestre. Angela Leite sabe como Goeldi, tirar da madeira, do papel, do branco e do preto, mundos de sensações inéditas. Através destas sensações cria uma linguagem enxuta, despojada, exata, isenta de fioritures desnecessárias. Em suas gravuras o “menos é mais” de Reinhardt é uma realidade. Isso é bom.
Carlos Von Schmidt – 1984
A artista desenvolve atividades de sensibilização às questões da natureza com escolas e instituições. Participa de campanhas de entidades como a União em Defesa da Natureza e a Rede Pró-Unidades de Conservação e é membro-fundador da União em Defesa das Baleias. Ministra, também, cursos de xilogravura combinados ao conteúdo ambiental e de sustentabilidade.