Angela Leite - 0
Baleia-minke
Baleia-minke (Balaenoptera acutorostrata)
É a menor das rorquais, mas ainda um grande animal, só excedida em tamanho pelas maiores baleias e por dois tipos de tubarão, o que lhe valeu o título de “baleia anã”. Seu focinho agudo e triangular determinou o nome científico da espécie. É provida de 60 a 70 pregas ventrais, tendo um lombo cinza-escuro e a barriga branca. Chega a 10 m e 11 t, dimensões pouco expressivas ao tempo que os cetáceos gigantes eram rentáveis comercialmente. Cosmopolita, presente nos dois hemisférios, procura as águas tépidas equatoriais para o acasalamento e o verão polar para o desenvolvimento do feto e o armazenamento de krill. A gestação é de quase dez meses, nascendo o baleote com 2,5 m, sendo alimentado pelo rico leite materno por todo um semestre. As barbatanas costumam ser amareladas, apresentando extremidades escuras em algumas das populações meridionais. Ao norte do Equador, ostenta uma tarja branca nas nadadeiras, exclusiva da espécie, permitindo identificá-la à distância. Nada em pequenos grupos de dois a cinco indivíduos, mantendo uma separação por sexo no movimento migratório, viajando as fêmeas mais próximas da costa que os machos, não ultrapassando estes mais de 100 milhas do literal. Gomo as outras baleias, sua população se divide por estoques locais que não se misturam, fator respeitado pela CIB só em 1975, quando estabeleceu o limite de captura por estoque local e não mais globalmente por espécie. O número de sub-espécies sugeridas pelos cientistas varia de dois a cinco, não havendo possivelmente sub-espécie válida, segundo o especialista Ibsen Gusmão Câmara, presidente da FBCN. Caçada na costa norueguesa desde a Idade Média, veio a sofrer seu primeiro abalo populacional com a mecanização desta indústria baleeira, quando se elevou a caga anual deste grupo do Atlântico Norte para três mil animais, na década de 1930. Desprezada pelos outros caçadores importantes até os anos 60, era apenas conhecida como a alegre baleinha que seguia confiante os navios, pulando à sua volta e mergulhando sob eles. Relatos de baleeiros repetem estas histórias que passaram a ter desfecho fatal no Brasil desde 1965, a ponto de só escaparem do artilheiro duas das 763 minkes avistadas na estação de junho a dezembro de 1974.
O progressivo desfalque da espécie espadarte, depois de 65, alvo mais castigado pelos arpões, com o esgotamento das reservas de azuis e fins, finalmente reconhecido nesta década, levou as frotas japonesas e soviéticas ao ataque maciço à minke antártica em 1971. Embora o novo conceito de “produção máxima sustentável” (MSY), adotado pela CIB em 1975, preconize a captura de cinco mil animais por estação, para um total estimado de 200 mil, em 75/76, 9.630 minkes foram exterminadas e, na temporada seguinte, 11.924, extrapolando o limite recomendado. Em 1979, foi aprovada a desativação dos navios-fábrica, mas o Japão conseguiu passar uma emenda, privando a baleia-anã desta vantagem. Reconhecendo a imprecisão dos conhecimentos científicos atuais referentes aos cetáceos, a CIB aprovou a proibição de sua caça por dez anos, a partir de 1986, com uma revisão em 1990. A Islândia tentou burlar a moratória, camuflando – como “pesquisa cientifica” –, o abate de 220 baleias, ficando na mira dos ecologistas, que lhe prometem um boicote comercial; a Noruega, que já sofreu boicote semelhante em 1983, parece disposta a cumprir o acordo; a URSS anunciou que só pretende cumpri-lo em 87/88 e o Japão, que espalha o pessoal ocioso de sua decadente industria por países visitados pelas baleias, ameaça continuar a matança, a despeito das sanções econômicas já aplicadas contra ele pelos EUA, previstas pelas emendas Packwood-Magnuson e Pelly.
Depois de praticamente esgotar um estoque local de baleia-de-Bryde, no início dos anos 1960, que “mereceu” da CIB uma cota conjunta de captura com a espadarte até 1980, a Copesbra foi a pioneira no massacre da minke do Atlântico Sul, precedendo os japoneses e soviéticos que viriam a mata-las seis anos depois na região da Antártida, que pertence à mesma área II. Subsidiária da Nippon Reizo K.K., de Tóquio, será também a ultima a poupa-la nesta área, tendo os seus competidores se retirado desde 1982. Apesar de pressões contrárias da população, da imprensa e dos especialistas, 14.402 minkes foram sacrificadas em 20 anos de caça predatória no Brasil, finalmente interrompida por força da moratória mundial.
A captura da minke, de início modesta, enquanto se perseguia a mais valiosa espadarte, cresceu vertiginosamente diante do esgotamento dessa, chegando a um Maximo de 1.038 animais em 1975 contra três da outra espécie. Pesquisa realizada por Moura na década de 1970 concluía sobre os efeitos desastrosos do abate a cerca de 50 milhas da costa paraibana, na altura de Costinha, onde se instalara a multinacional. Os machos mais jovens são os primeiros a chegar, solitários, em meados de junho. As fêmeas chegam em grupos de três a cinco, progressivamente mais numerosas que os machos ate o pique da estação, entre setembro e outubro, totalizando no final da temporada uma proporção de 69% delas. Confirmando a hipótese de que procuram as águas tépidas, em torno de 27 ºC do literal paraibano para reprodução, 81% das fêmeas caçadas no período estavam fecundadas recentemente e eram jovens em pleno vigor reprodutivo. Pouco se apurou depois desta pesquisa, desconhecendo-se até agora o local de acasalamento e o número de populações que migra na região, tendo sido identificados estoques distintos e confirmada a rota que sobe para o Equador margeando a África e volta para a Antártida costeando o nosso litoral. A partir do pouco que se conhece e do tanto que resta conhecer sobre as nossas minkes, a paralisação da matança pela Copesbra é um passo decisivo para a sua preservação no Atlântico Sul, que se tornará um santuário para os cetáceos.