Angela Leite - 0
Onça-pintada
Onça-pintada (Panthera onca)
Se a presa se avizinha ela se retesa, se agacha, se arrasta pelo chão, não se traindo em sua tocaia nem pelo inseto mais insolente. Se a presa lhe escapa ela nada, corre, salta em altura e distância com a malícia e a graça dos gatos. Caça com o mesmo fôlego e perfeição. Apesar do importante tamanho (1,70 m nos machos), que faz dela o maior felídeo americano, nada fica a dever em habilidade e leveza a seus primos domésticos.
Com todos estes predicados, manteve a soberania nas Américas, do Texas à Patagônia, incluindo até os jacarés em sua dieta. Respeita apenas o touro mas tem força suficiente para quebrar-lhe o pescoço e arrastá-lo rio abaixo ou floresta adentro, se a necessidade o exigir.
Hoje, exceto na Amazônia, é quase exclusiva das reservas florestais e dos zoológicos, pois a ameaça à sua extinção se processa paralelamente à expansão da pecuária e da lavoura. Com a escassez progressiva de porcos-do-mato, veados e capivaras, passou a atacar os rebanhos domésticos, o que lhe valeu a perseguição inclemente dos fazendeiros, responsáveis em primeira instância pela citada escassez.
A pretexto de aumentar as pastagens, queimadas e desmatamentos outros são provocados; em defesa das colheitas, os grandes roedores são exaustivamente eliminados. Por seu porte e vigor, tornou-se também o troféu predileto da caça amadorística, como se o seu abate, através da arma de fogo, conferisse ao atirador suas ambicionadas qualidades viris. O mesmo “transporte” é experimentado pelo fazendeiro ou caçador que transferem para si a bravata do zagaieiro, profissional contratado por eles. Além disso, pelo citado desvio psicológico, as onças não são poupadas pelos caçadores clandestinos (nem dentro dos parques nacionais), que de quebra levam a pele, de alta cotação no mercado ilegal.
Sob o fogo cruzado dos desmatamentos e da caça seletiva o jaguar canguçu (Panthera onca palustris), a maior sub-espécie de onça é a de situação mais precária. A única esperança para o poderoso carnívoro de 140 kg é que haja imediato estabelecimento de grande área protegida no ecossistema do Pantanal, seu habitat.
Freqüentemente solitárias, são vistas aos pares apenas no período de acasalamento. Uma caverna ou árvore oca seve de toca para a nova família, onde nascem os filhotes, nunca excedendo limite de três, depois de uma gestação de cento de poucos dias. Os jovens jaguaretês completam seu crescimento aos três anos, laboriosamente treinados pela mãe, em poucos meses, na arte da sobrevivência, que consiste em manter a força do touro sem perder as manhas do gato.